Imagem: Fotomontagem
Publicado originalmente no site da revista Istoé Dinheiro, em 23/09/16
O guru das estatais
O consultor Vicente Falconi torna-se figura influente por
trás das reestruturações da Petrobras e da Eletrobras
Vicente Falconi: “Aquilo que você não mede, você não
gerencia. Fica à deriva”
Ralphe Manzoni Jr.
Assim que assumiu a presidência da Petrobras, no fim de maio
deste ano, o executivo Pedro Parente chamou Vicente Falconi, dono de uma
consultoria de gestão homônima, para conversar. Os dois se conhecem desde 2001,
quando Falconi fez parte do Comitê de Gestão da Crise de Energia Elétrica,
órgão criado para enfrentar o apagão durante o governo Fernando Henrique
Cardoso. Ambos trabalharam juntos também na companhia de mídia gaúcha RBS e na
empresa do agronegócio Bunge, que foram comandadas por Parente. Não é de se
estranhar que as primeiras declarações do novo presidente da estatal do
petróleo são as de que quer adotar “o modelo de gestão da Ambev” na Petrobras.
Sabe quem é a mente por trás do modelo de gestão da Ambev?
Sim, Falconi. O consultor é a eminência parda que ajudou a forjar a cultura de
eficiência da maior cervejaria brasileira. Por essa razão, ele faz, há muito
tempo, a cabeça de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, os donos
da Ambev e sócios no fundo 3G Capital, controladores do Burger King e da Heinz
Kraft. O empresário gaúcho Jorge Gerdau trabalha com Falconi desde a década de
1980 e fez, ao seu lado, uma cruzada pela levar os métodos do consultor para as
empresas públicas, por meio do Movimento Brasil Competitivo.
A lista de figurões que cultuam Falconi é extensa e inclui
ainda os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, acionistas do Itaú
Unibanco, o publicitário Nizan Guanaes, do grupo ABC, e o médico Edson de Godoy
Bueno, controlador do laboratório Dasa e que vendeu a Amil para a UnitedHealth,
tornando-se acionista da gigante americana do setor de saúde. Perto de
completar 76 anos, Falconi tem idade mais do que suficiente para estar
aposentado. Mas ele não só está na ativa como, nos últimos meses, se
transformou no guru por trás de duas das maiores reestruturações de empresas em
curso no País.
Por coincidência, ambas estatais: a Petrobras e a
Eletrobras. Nesta última, o consultor foi recrutado para fazer parte de seu
conselho de administração. Sua missão é ajudar o executivo Wilson Ferreira Jr.,
que acabou de assumiu a companhia, a dar um choque de gestão na problemática
holding do setor elétrico. “O Falconi certamente é a maior liderança no tema da
eficiência de processos, da eficiência operacional e da eliminação de perdas”,
disse Ferreira Jr., em entrevista exclusiva à DINHEIRO (leia reportagem sobre a
Eletrobras aqui). “Ele tem um campo vasto para mexer dentro da Eletrobras.”
Por que Falconi se transformou no mais renomado guru de
gestão do Brasil? Ele inspirou em um método que pode ser resumido em quatro
letras: PDCA, iniciais em inglês das palavras planejamento, execução,
acompanhamento e correção. O consultor uniu o conceito de meritocracia do
Goldman Sachs e a estratégia de gerenciamento “gastando a sola de sapato” de
Sam Walton, fundador do Walmart, e estabeleceu disciplina e métricas a eles.
“Aquilo que você não mede, você não gerencia. Fica à deriva”, costuma dizer
Falconi. Segundo ele, todos os funcionários da empresa precisam ter metas: do
presidente ao empregado do chão de fábrica. É exatamente o que vai acontecer na
Petrobras e na Eletrobras.
As duas estatais também vão adotar o que ficou conhecido
como “orçamento base zero”, a revisão anual de despesas que desconsidera o
histórico anterior e leva em conta as prioridades estabelecidas a cada ano.
Falconi não é o criador dessa estratégia, que é atribuída ao engenheiro
americano Pete Pyhrr, da fabricante de chips Texas Instruments, na década de
1960. Mas ele e o trio do 3G levaram essa técnica ao estado da arte. Por esse
motivo, a obsessão de Falconi por manter os custos sob controle é célebre. “Ele
gosta de esquadrinhar todas as despesas a fundo para saber realmente o que pode
ou não ser cortado”, diz um consultor, que trabalhou durante muitos anos com
Falconi. “Um de seus bordões, repetidos por executivos da Ambev, é que custos
são como unhas: se não cortar, crescem.”
Nascido em Niterói, Falconi formou-se em engenharia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1963. Atuou como professor de
metalurgia de 1964 a 1992 nesta instituição. Por essa razão, adota um tom
professoral quando conversa com outras pessoas, explicando didaticamente seus
pontos de vista. É chamado, inclusive, de professor tanto por seus
funcionários, como pelos empresários. Na década de 1980, ele prestava
consultoria pela Fundação Christiano Ottoni, ligada à UFMG. Um de seus
parceiros mais frequentes era José Martins de Godoy, que veio a se tornar seu
sócio no Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), nome da consultoria de
ambos.
Os dois dividiam bem o trabalho. Godoy cuidava do dia a dia.
Falconi era o orientador técnico e sua face mais visível para o mercado. Esse
relacionamento manteve-se inabalado até 2010, quando o processo de sucessão do
INDG fez Falconi e Godoy romperem de forma ruidosa. Godoy criou a Aquila, uma
consultoria comandada por seu irmão. Falconi abandonou o nome de INDG para
criar uma empresa com a sua própria marca, em 2012, e escolheu o executivo
Mateus Bandeira como CEO. Atualmente, envolve-se diretamente em poucos
projetos. Mas, dado o trabalho que terá na Petrobras e Eletrobras, tudo indica
que Falconi ainda está longe de se aposentar.
Correção: a primeira versão desta reportagem dizia que
Vicente Falconi criou o método PDCA. Na verdade, ele se inspirou neste método.
Texto e imagem reproduzidos do site: istoedinheiro.com.br
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