sábado, 14 de abril de 2018

O guru das estatais

Imagem: Fotomontagem

Publicado originalmente no site da revista Istoé Dinheiro, em 23/09/16

O guru das estatais

O consultor Vicente Falconi torna-se figura influente por trás das reestruturações da Petrobras e da Eletrobras

Vicente Falconi: “Aquilo que você não mede, você não gerencia. Fica à deriva”

Ralphe Manzoni Jr.

Assim que assumiu a presidência da Petrobras, no fim de maio deste ano, o executivo Pedro Parente chamou Vicente Falconi, dono de uma consultoria de gestão homônima, para conversar. Os dois se conhecem desde 2001, quando Falconi fez parte do Comitê de Gestão da Crise de Energia Elétrica, órgão criado para enfrentar o apagão durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Ambos trabalharam juntos também na companhia de mídia gaúcha RBS e na empresa do agronegócio Bunge, que foram comandadas por Parente. Não é de se estranhar que as primeiras declarações do novo presidente da estatal do petróleo são as de que quer adotar “o modelo de gestão da Ambev” na Petrobras.

Sabe quem é a mente por trás do modelo de gestão da Ambev? Sim, Falconi. O consultor é a eminência parda que ajudou a forjar a cultura de eficiência da maior cervejaria brasileira. Por essa razão, ele faz, há muito tempo, a cabeça de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, os donos da Ambev e sócios no fundo 3G Capital, controladores do Burger King e da Heinz Kraft. O empresário gaúcho Jorge Gerdau trabalha com Falconi desde a década de 1980 e fez, ao seu lado, uma cruzada pela levar os métodos do consultor para as empresas públicas, por meio do Movimento Brasil Competitivo.

A lista de figurões que cultuam Falconi é extensa e inclui ainda os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, acionistas do Itaú Unibanco, o publicitário Nizan Guanaes, do grupo ABC, e o médico Edson de Godoy Bueno, controlador do laboratório Dasa e que vendeu a Amil para a UnitedHealth, tornando-se acionista da gigante americana do setor de saúde. Perto de completar 76 anos, Falconi tem idade mais do que suficiente para estar aposentado. Mas ele não só está na ativa como, nos últimos meses, se transformou no guru por trás de duas das maiores reestruturações de empresas em curso no País.

Por coincidência, ambas estatais: a Petrobras e a Eletrobras. Nesta última, o consultor foi recrutado para fazer parte de seu conselho de administração. Sua missão é ajudar o executivo Wilson Ferreira Jr., que acabou de assumiu a companhia, a dar um choque de gestão na problemática holding do setor elétrico. “O Falconi certamente é a maior liderança no tema da eficiência de processos, da eficiência operacional e da eliminação de perdas”, disse Ferreira Jr., em entrevista exclusiva à DINHEIRO (leia reportagem sobre a Eletrobras aqui). “Ele tem um campo vasto para mexer dentro da Eletrobras.”

Por que Falconi se transformou no mais renomado guru de gestão do Brasil? Ele inspirou em um método que pode ser resumido em quatro letras: PDCA, iniciais em inglês das palavras planejamento, execução, acompanhamento e correção. O consultor uniu o conceito de meritocracia do Goldman Sachs e a estratégia de gerenciamento “gastando a sola de sapato” de Sam Walton, fundador do Walmart, e estabeleceu disciplina e métricas a eles. “Aquilo que você não mede, você não gerencia. Fica à deriva”, costuma dizer Falconi. Segundo ele, todos os funcionários da empresa precisam ter metas: do presidente ao empregado do chão de fábrica. É exatamente o que vai acontecer na Petrobras e na Eletrobras.

As duas estatais também vão adotar o que ficou conhecido como “orçamento base zero”, a revisão anual de despesas que desconsidera o histórico anterior e leva em conta as prioridades estabelecidas a cada ano. Falconi não é o criador dessa estratégia, que é atribuída ao engenheiro americano Pete Pyhrr, da fabricante de chips Texas Instruments, na década de 1960. Mas ele e o trio do 3G levaram essa técnica ao estado da arte. Por esse motivo, a obsessão de Falconi por manter os custos sob controle é célebre. “Ele gosta de esquadrinhar todas as despesas a fundo para saber realmente o que pode ou não ser cortado”, diz um consultor, que trabalhou durante muitos anos com Falconi. “Um de seus bordões, repetidos por executivos da Ambev, é que custos são como unhas: se não cortar, crescem.”

Nascido em Niterói, Falconi formou-se em engenharia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1963. Atuou como professor de metalurgia de 1964 a 1992 nesta instituição. Por essa razão, adota um tom professoral quando conversa com outras pessoas, explicando didaticamente seus pontos de vista. É chamado, inclusive, de professor tanto por seus funcionários, como pelos empresários. Na década de 1980, ele prestava consultoria pela Fundação Christiano Ottoni, ligada à UFMG. Um de seus parceiros mais frequentes era José Martins de Godoy, que veio a se tornar seu sócio no Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), nome da consultoria de ambos.

Os dois dividiam bem o trabalho. Godoy cuidava do dia a dia. Falconi era o orientador técnico e sua face mais visível para o mercado. Esse relacionamento manteve-se inabalado até 2010, quando o processo de sucessão do INDG fez Falconi e Godoy romperem de forma ruidosa. Godoy criou a Aquila, uma consultoria comandada por seu irmão. Falconi abandonou o nome de INDG para criar uma empresa com a sua própria marca, em 2012, e escolheu o executivo Mateus Bandeira como CEO. Atualmente, envolve-se diretamente em poucos projetos. Mas, dado o trabalho que terá na Petrobras e Eletrobras, tudo indica que Falconi ainda está longe de se aposentar.

Correção: a primeira versão desta reportagem dizia que Vicente Falconi criou o método PDCA. Na verdade, ele se inspirou neste método.

Texto e imagem reproduzidos do site: istoedinheiro.com.br

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